segunda-feira, novembro 25, 2024
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Rede de clínicas odontológicas é alvo de investigação no MP suspeita de prática abusiva

Dona “Maria das Cruzes”, um nome fictício para proteger a integridade moral de quem já está calejado pela irresponsabilidade alheia em uma história nada fictícia, sempre sonhou em cuidar dos dentes. Mas, infelizmente, este sonho virou um pesadelo e o que era para ser um motivo para “sorrir” se transformou em lágrimas de desespero.

A aposentada que hoje mora em Casa Branca é uma das muitas pessoas que lutam por justiça após a contratação de serviços em uma clínica odontológica que gerou prejuízos financeiros, físicos e psicológicos.

Segundo ela, passava pela calçada quando foi abordada por um funcionário da clínica que possui uma rede com unidade em várias cidades, inclusive na região. A idosa comenta que o convite era para apenas conhecer as instalações e fazer um simples orçamento.

“Me disseram que meu tratamento ia ficar em um valor x, menos de R$ 10 mil, R$ 9,5. Aí eu aceitei fazer o tratamento por esse valor até que estava dentro da minha possibilidade. Porém, eles marcaram a primeira cirurgia para retirar os outros dentes que eu tinha. Me convenceram a colocar o implante, eu concordei, claro. Porque eles disseram que iam fazer financiado porque eu pensei que fosse um financiamento da própria clínica. Mas não foi”, desabafa.

Maria relatou que 15 dias após a primeira cirurgia quando foi retirar os pontos, foi abordada pelo proprietário da unidade que insistiu que ela fizesse o pagamento do serviço à vista, porém ela explicou que não tinha condições para isso e que havia concordado em seguir no procedimento porque seria parcelado.

Ela comenta que a cada procedimento que fazia, era necessário que assinasse algum documento na recepção constando que tinha sido realizado o serviço. Tempo depois ela descobriu que fez a adesão a dois financiamentos em bancos diferentes, sendo que recebeu o cartão e um carnê dessas transações, na própria clínica.

Ela acabou desistindo do tratamento que teria começado em outubro do ano passado, porque o procedimento que era realizado não correspondia ao que esperava. Dos cinco pinos colocados, perdeu dois. Hoje o caso está na justiça, ela sofre com dores e com a prótese provisória, ela mal consegue se alimentar, além de reclamar de dificuldades na fala.

“Não sei o que faço, não tenho condição de procurar outro profissional”, desabafou decepcionada.

Com o “Sebastião Luiz”, também nome fictício para um personagem real, a história seguiu praticamente do mesmo modo. Ele seguia pela calçada quando foi abordado para conhecer a clínica e lá também fez um “orçamento sem compromisso”.

 “Já foi me sentando eu na cadeira de dentista. E já foi me olhando a boca. Já catou um prontuário, já foi marcando. Sem eu pedir. E aí fazendo aquela lavagem cerebral na gente. Ah, o senhor precisa fazer… Porque eu tenho dentadura e os dentes de baixo normal. E os dentes precisam fazer uma limpeza, clareamento, e pôr uma dentadura fixa. E foi me engabelando. O senhor tá com os documentos aí? A gente, inocentemente, tô. Carrego junto, né? E o que o senhor tem aí? Eu tenho meus cartões que eu recebo, pagamento, coisa. Aí me pegou o cartão, um da Caixa e um do Banco Brasil. E fez um empréstimo. Fez um empréstimo. E falando comigo, ele pôs aí, falando, por autoridade. A senhora fica perdida. Aquela coisa na cabeça da gente”, contou traumatizado o idoso que dias mais tarde também descobriu dois empréstimos em seu nome. De acordo com “Sebastião”, foi realizada uma limpeza e retornaria depois ao local para realizar o clareamento dental.

“Aqui tá assim, Resina, cem reais. Clareamento, seiscentos. Remoção de tártaro, limpeza, aplicação de flúor, trezentos. Não fez nada disso. Ele só fez essa limpeza de tártaro. Foi trezentos reais. Sim. E aí, ponte com grampo, dois e oitocentos. Aí, eu cheguei em casa, contei pra minha mulher. Minha mulher falou, você caiu num golpe. Eu não sabia. Ele me chamou lá dentro pra olhar a clínica. Tava bonita”, comentou o idoso.

A clínica que atendeu a Maria e o Sebastião coleciona estas mesmas denúncias no Procon. Em sua maioria, são idosos de diferentes cidades da região, entre elas Mococa e Casa Branca, que foram abordados muitas vezes da mesma maneira.

Diante dos fatos, em março deste ano, a 3ª Promotoria de Justiça de Casa Branca instaurou um inquérito civil para apurar as eventuais práticas abusivas e vícios na prestação de serviço desta rede de Clínicas Odontológicas denunciadas pelo Procon do município. De acordo com a Promotora de Justiça Dra. Patricia Lacerda Pavani Couvre, a investigação está em fase inicial e aguarda a vistoria do Conselho Regional de Odontologia, sendo que as medidas possíveis incluem termo de ajustamento de conduta ou ação civil pública. Ações individuais já estão em andamento para a reparação dos consumidores e ainda segundo o MP, a clínica nega as acusações e se mostrou disposta a resolver os casos, entretanto a investigação continua.

Assim como para o MP, que prontamente encaminhou resposta aos questionamentos junto à imprensa, também tentamos contato com a Clínica através do setor jurídico que indicou um e-mail para responder aos questionamentos. Mas, até o momento estamos sem retorno.

Enquanto isso o número de denúncias no Procon vem aumentando cada vez e com ele a preocupação de quem agora mais do que nunca, não consegue sorrir após tamanha decepção.

Encaminhamos também a situação para a Defensoria Pública do Estado de São Paulo através da Coordenação do Núcleo Especializado dos Direitos da Pessoa Idoso e Pessoa com Deficiência e a orientação do órgão foi que, “devido a inexistência de unidades nas cidades envolvidas, a pessoa prejudicada pelo serviço prestado ou por eventuais fraudes cometidas pela clínica odontológica podem procurar diretamente a OAB destas cidades que um advogado ou advogada conveniada fará o atendimento jurídico gratuitamente. Podem ser atendidas gratuitamente pela Defensoria Pública ou mediante o convênio pessoas cuja renda familiar seja de 3 (três) salários mínimos. Este valor, entretanto, pode ser ampliado quando houver fatores que evidenciem exclusão social conforme Deliberação do Conselho Superior da Defensoria Pública n.º 89/2008”.

Fonte: Canal Regional

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